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“VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA EM PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO”
“Vejam que estou
fazendo uma coisa nova...” (Is 43,19).
O
Deus trindade e comunhão nos reuniu como Consagradas e Consagrados na XXIV
Assembleia Geral Eletiva da Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil,
realizada em Brasília de 11 a 15 de julho de 2016, com o tema: “Vida Religiosa Consagrada em processo de
transformação” e o lema: “Eis que
estou fazendo uma coisa nova” (Isaías 43,19). Somos aproximadamente 500
participantes vindos/as de todos os lugares do Brasil, representantes de outros
continentes e de Institutos Religiosos Seculares. Vivenciamos os diferentes
carismas, etnias e culturas, em comunhão com a Confederação Caribenha e Latino
Americana de Religiosas/os (CLAR) e em profundo agradecimento pelo tesouro que a
Vida Religiosa Consagrada representa para a Igreja e para o mundo, como nos diz
o Papa Francisco.
A
partir do que vimos e ouvimos, sentimos o imperativo exigente de uma profunda reforma
da Igreja no centro da consciência do Povo de Deus, povo universal, chamado a
chegar até os extremos confins da Família Humana. Essa reforma quer traduzir no
hoje o coração pulsante do Evangelho de Jesus, na força do Espírito Santo e no
discernimento dos sinais dos tempos. Também para a Vida Religiosa Consagrada
urge acontecer uma profunda reforma a fim de continuar sendo sinal e profecia
no mundo de hoje, caminhando junto, testemunhando a verdade com a caridade e
assumindo o diálogo como caminho da evangelização.
Com o profeta ousamos sonhar e alimentar
nossa esperança. No entanto, junto com a humanidade, a sociedade e a Igreja,
também a Vida Religiosa Consagrada se encontra numa encruzilhada. Precisamos
fazer memória do passado, viver com novo encantamento o momento presente e
avançar. A crise em que vivemos é oportunidade de construção de novos
horizontes e de fortalecimento de nossa identidade, de crescimento na intercongregacionalidade
e de atitudes mais ousadas.
“Eis
que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando e vocês não percebem?” (Is
43,19). O protagonista da missão é Deus, toda a ação salvadora vem dele. Quem
cria a coisa nova entre nós é Deus, somos seus colaboradores (cf. I Cor. 3,9).
Nossos caminhos, instituições e estruturas são meios, não são o centro nem têm fim
em si mesmos. O Papa Francisco nos lembra de que não devemos ter medo de deixar
os odres velhos, de renovar os hábitos e estruturas que na Vida Consagrada já
não respondem ao que Deus nos pede hoje para fazer avançar o Reino de Deus no
mundo.
É
preciso despertar uma Vida Religiosa Consagrada que testemunhe a alegria e a
liberdade do Evangelho, frente à complexidade do mundo atual. Para isso se faz
necessário:
·
Voltar à primazia do Evangelho, redescobrindo a
importância do silêncio e da mística na escuta da Palavra,
tendo o mistério de Jesus Cristo como fonte inspiradora de nossa consagração
que aponta para a missão e não para uma obsessão de sobrevivência.
·
Resgatar a vida fraterna como caminho de
seguimento em toda a sua dimensão humana e humanizadora. O anúncio da Boa Nova
jamais acontece de mão única, mas sempre na reciprocidade da relação: precisamos
aprender a nos dar, mas também a receber dos outros.
·
Incentivar uma Vida Religiosa Consagrada em
saída, a partir dos nossos Carismas Fundacionais, que nos impulsione a um
compromisso profético mais além de nossas fronteiras. A experiência missionária
é sempre marcada pela itinerância, despojamento, leveza e provisoriedade. Vivenciamos
em nossa assembleia o envio de quatro religiosas para a missão
intercongregacional na Diocese de Pemba – Moçambique.
·
Reavivar a
proximidade e o encontro com as Novas Gerações e as juventudes de nosso tempo através
de processos formativos humanizadores e conectados com os debates de hoje, de
maneira que encontrem na Vida Religiosa Consagrada mulheres e homens como irmãs
e irmãos de caminhada.
·
Reafirmar a opção
preferencial pelos pobres através da solidariedade e reaproximação com um
estilo de vida simples e austera, comprometida com as causas sociais, engajada
nas lutas em defesa dos direitos, da dignidade e da vida para todos, promovendo
a participação política e colocando-nos ao lado dos grupos humanos mais
vulneráveis, como os migrantes, os refugiados, as vítimas do tráfico humano, os
afrodescendentes, os povos indígenas, entre outros.
·
Promover uma
ecologia integral que brote de uma paixão pelo cuidado da Casa Comum e se
alimente de uma espiritualidade que propõe um crescimento na humildade sadia e
uma sobriedade feliz. (Cf. LS 222). Desta forma, encontramos a presença e a
ação de Deus em todas as criaturas, e “juntamente a todas as criaturas
caminhamos nesta terra a procura de Deus” (LS 244).
Confiantes na ação do espírito, que faz brotar coisas
novas, e na presença de Maria, que nos contagia com sua gratuidade e prontidão,
saiamos depressa como Vida Religiosa Consagrada ao encontro dos pobres,
cuidando da vida e anunciando o Reino.
Brasília, 15 de julho de
2016.
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